Nota Técnica: Mortalidade de láparos em cunicultura

 

Por: Luiz Carlos Machado

Professor do IFMG Campus Bambuí

 

Colaboraram para a elaboração desse trabalho:

 

Ana Silvia A. T. Moura

Berilo Souza Brum Jr.

Edson Ruiz

Ivan Araújo

Lilia Diana Haitz

Luiz Henrique Lima de Mattos

Marilia T S Padilha

Rosemary Carvalho

Walter Motta Ferreira

Wellington Pedrosa

Yuri De Gennaro Jaruche

 

           Atualmente, a elevada taxa de mortalidade é um dos maiores problemas observados na cunicultura, sendo mais alta que a observada em outras espécies comerciais. É fundamental que os meios acadêmico e produtivo discutam esse problema, identificando as causas e apontando as soluções. Essa nota foi criada a partir do fórum de discussão em cunicultura, havendo a colaboração de estudantes de pós graduação, professores e produtores, e objetiva discutir e propor melhorias para o problema.

              A mortalidade de láparos é verificada principalmente nos primeiros dias de vida. Em pequenas granjas, o controle individual sobre os animais é maior, e a mortalidade pode ser menor, sendo agravada em grandes granjas. É comum se verificar mortalidade média de 20% no plantel. Este alto número de animais perdidos é uma situação preocupante.

              Quando se trabalha com animais nova zelândia branco, é comum se observarem ninhadas de 10 a 12 filhotes. Considerando que a fêmea apresenta quatro pares de tetas e que permanece apenas alguns minutos por dia no ninho, é essencial que parte desses filhotes sejam distribuídos. Para isso, o cunicultor deverá cruzar suas coelhas em dias próximos. Os animais não poderão ser transferidos com mais de três dias de idade, pois a rejeição seria maior. Além disso, não é aconselhável que uma fêmea receba mais de três láparos. Pode-se propor a padronização de oito láparos por coelha.

              Uma das principais causas levantadas, de fundamental importância para os cunicultores, é a qualidade nutricional da ração utilizada para as matrizes. Uma matriz que não receba o aporte de nutrientes necessário, em quantidade e qualidade, não conseguirá levar sua gestação adiante, havendo aborto ou ainda se os animais chegarem a nascer, não haverá leite suficiente para todos, elevando a mortalidade. Há relatos de escolas que adquiriram ração de forma inadequada, a partir de sistema de licitação ou pregão eletrônico, onde as rações não condiziam com o solicitado. É importante salientar que quanto menor o intervalo entre partos adotado, maior deve ser o aporte nutricional e melhor deve ser a qualidade nutricional da ração. No mercado há vários alimentos de baixa qualidade, principalmente destinados a criações caseiras, havendo grandes perdas quando são utilizadas para sistemas que têm ritmo reprodutivo mais intenso. As rações específicas para reprodução disponíveis no mercado são as que apresentam pelo menos 17% de proteína bruta. Portanto é fundamental que o cunicultor adquira rações de boa qualidade nutricional, específicas para animais reprodutores, as quais apresentam níveis mais elevados de alguns nutrientes. O cunicultor deve limitar a quantidade para coelhos reprodutores, matrizes vazias até 20 dias de gestação e matrizes em reposição, mas para as fêmeas no terço final de gestação e com filhotes, a ração deve ser à vontade.

            Deve-se lembrar que a matriz, próximo ao pico de lactação, entra em déficit energético, havendo perda de peso, o que é agravado em situações onde se usam rações de baixa qualidade nutricional. A recuperação da matriz durante a fase de pré-gestação poderá ser fundamental. O cunicultor deverá escolher quantos dias deverá esperar para novo cruzamento após o parto. Esse intervalo poderá ser reajustado, caso se veja essa necessidade. É recomendável que o cunicultor procure assistência técnica para essa escolha. Pode acontecer de a matriz estar obesa, o que prejudicará a fertilidade. Nesse caso, poderá ser adotada restrição alimentar, fornecendo metade da ração anteriormente fornecida, até que se retorne à condição normal.

            Não há ainda no Brasil, sucedâneos específicos para láparos. Há uma pesquisa iniciando os estudos nessa área, onde são testados sucedâneos alternativos administrados com auxílio de uma mamadeira para gatinhos, facilmente encontrada em lojas especializadas. Deve-se lembrar que cada filhote sai para o cunicultor por cerca de R$ 3,00 e que a recuperação de alguns filhotes pode ser interessante para o aumento dos lucros.

          Em situações de calor excessivo, a matriz ingere menor quantidade de ração, o que contribuirá para aumento da mortalidade e abandono. Pode ser interessante que se usem dietas específicas para essa situação, havendo maior concentração de nutrientes para minimizar os problemas. O cunicultor deverá procurar a indústria de ração para poder verificar a possibilidade disso, embora ainda seja distante quando se fala em cunicultura, pois o volume de ração produzido é muito baixo. A temperatura da água também deve ser monitorada, pois os animais ingerem menos água se esta estiver numa temperatura mais elevada, gerando graves problemas. Deve haver água fresca a vontade.

            O material utilizado para a confecção dos ninhos é muito importante. Há materiais com cheiros fortes e repulsivos que não devem ser usados. Caso se use maravalha, essa não pode ter resíduo de tratamento de madeira. Quando se utiliza casca de arroz, os animais podem ingerir um pouco deste material, havendo alta mortalidade devido à perfuração do esôfago. Além disso, um capim mal seco pode favorecer o desenvolvimento de fungos. Os ninhos deverão ser furados, pois muitas fêmeas costumam urinar dentro do ninho. No Brasil os ninhos de madeira são mais utilizados, embora possam alojar quantidade considerável de microorganismos. Na situação de calor excessivo, o ninho deverá ser muito bem escolhido, devendo o cunicultor usar ninhos abertos, pois garantem temperatura mais amena. Em situações de calor excessivo, as coelhas podem parir fora do ninho. Já em épocas mais frias, os cunicultores podem optar por ninhos fechados e considerando ainda que o frio excessivo é também uma das causas para elevação da mortalidade, alguns colegas relatam o aquecimento artificial dos filhotes, havendo a utilização de lâmpadas ou ainda ninhos aquecidos com a utilização de resistências. Assim, os cunicultores podem ter diferentes tipos de ninhos no coelhário usando-os conforme a época do ano. Atualmente são discutidas e pesquisados outros tipos de ninhos como os acoplados a gaiola, os ninhos com aquecimento artificial, como relatado acima, ou ainda o ninho toca, que simula a toca natural do animal. É fundamental que esse ninho seja limpo e seco ao sol antes da reutilização. Devemos lembrar que os lucros do cunicultor começam no ninho, devendo este estar bem limpo para receber os animais.

          É necessário lembrar que coelhas primíparas têm maior dificuldade para cuidar dos filhotes, o que poderá gerar aumento na taxa de mortalidade, quando se inicia a atividade. Sempre que possível, o cunicultor deve estar de plantão nos dias de maior taxa de nascimento, visitando e permanecendo no coelhário sempre que possível.

             Uma situação observada por vários, sem explicações evidentes, é a morte de algumas matrizes sem quaisquer sinais clínicos, principalmente em momentos que antecedem o parto, não estando claros ainda os motivos desta ocorrência. Outro colega relatou a morte de láparos com idade entre 45 a 60 dias de idade, sem quaisquer sinais clínicos, sugerindo morte súbita. Essa situação é incomum, não sendo relatada pela maioria. Nessa idade poderá aparecer também diarréia. É importante que o cunicultor forneça alimentação verde, principalmente de alimentos que proporcionem melhoria na saúde intestinal. Para este fim, é relatado o uso de folhas e talos de bananeira, rami, capim elefante, etc. Essa prática é interessante também para redução do estresse dos animais. Ainda para redução da diarréia, pode ser utilizado 1 a 3 gotas de mebendazol por três dias.

              A coelha poderá abandonar as crias caso perceba que os filhotes não são seus, numa possível transferência de filhotes sendo esta uma prática comum na cunicultura. Pode ser interessante que o tratador confunda o animal utilizando materiais com cheiro forte. Pode ser usado um chumaço de folhas de erva-cidreira, e passar nos láparos para que mantenham esse cheiro e a mãe não consiga distinguir. Há também dicas para passar materiais de cheiro forte, no focinho da coelha, para que o cheiro dos filhotes seja confundido.

             Outro fator a ser considerado, dentre as diversas condições ambientais, é o barulho. Em situações de barulho em excesso as coelhas poderão abortar, abandonar as crias, produzir menos leite, pois toda a fisiologia do animal estará alterada. Assim, o cunicultor deverá prezar pela tranquilidade.

               É importante que as matrizes estejam em boas condições sanitárias durante a gestação e após o parto. É necessário vistoriar cabeça, corpo e membros dos animais, além de fazer uma desinfecção bem feita nos ninhos entre os partos.

               Algumas coelhas parem filhotes já mortos. Caso se passe o tempo para que os animais nasçam, se observando mal estar elevado no animal, pode ser interessante a administração de oxitocina para nascimentos desses filhotes, devendo essa administração ser feita sob orientação técnica.

               Os cunicultores devem registrar as mortes para depois analisá-las em conjunto, podendo neste momento discutirem as causas e apontar as formas de minimizar o problema.

 

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