yuriNota Técnica – Ceco, cecofagia, cecotrofagia, cecotrofia, cecotróficos,
cecotrofos, coprofagia, coprofágicos e coprófagos. Entendendo isso...

 

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Por: Yuri De Gennaro Jaruche, Zootecnista pela UFMG e Mestrando em Produção de Não-Ruminantes pela UEM, com enfoque em Cunicultura.
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Maringá – PR, 20 de junho de 2012

 

“- Ai credo, coelho come „coco., que nojo!” ou “- Coelho tem coprofagia”.
Quantas vezes vocês, criadores e/ou tratadores de coelhos, já escutaram essas
frases? Tenho certeza que muitas. Quais foram suas respostas? Será que vocês
estavam mesmo certos ao dizerem sim ou não? E os argumentos utilizados, foram
convincentes a vocês mesmos? Será que aquele artigo, folheto, livro, manual,
panfleto ou site estavam corretos? Poderiam vocês confiar nas palavras dos
conhecidos, colegas, amigos ou profissionais? Nem sempre uma palavra parecida
com a outra tem o mesmo significado. Não saber o significado de uma palavra ou achar que ela significa algo
que na verdade possui outro significado é muito comum tanto em cunicultura, como nas mais diversas áreas
do conhecimento humano. Porém, o entendimento exato de cada termo não somente nos tornam pessoas
mais inteligentes como também aperfeiçoa nossas atividades. Abaixo estão listadas algumas palavras
comumente ditas ou escritas no setor de cunicultura que confundem até mesmo os especialistas, contendo
ao lado seus significados, explicações e exemplos.

 

Ceco: E a primeira parte anatomica do intestino grosso. O aparelho digestivo do coelho e composto por
boca, laringe, esofago, estomago, intestino delgado e intestino grosso. O intestino delgado e divido em
duodeno, jejuno e ileo. O intestino grosso em ceco, colon e reto. Nos coelhos o ceco e muito desenvolvido,
pois tem a funcao de auxiliar na fermentacao das fibras, com a ajuda de uma microbiota especifica,
melhorando o teor de energia para os animais. Os cavalos tambem possuem um ceco desenvolvido e com
funcoes semelhantes, no entanto, suas exigencias nutricionais sao muito diferentes e, por isso, nao devemos
fornecer racoes peletizadas de cavalos para coelhos e nem racoes peletizadas de coelhos para cavalos.

cecotrofia

Cecotrofos: É o bolo alimentar fermentado por mais tempo no ceco do coelho que naturalmente ocorre.
Essa palavra pode ser dividida em duas partes, “ceco” e “trofos”. “Ceco” é primeira parte anatômica do
intestino grosso e “trofos” é uma derivação de trofia que significa alimento. Então, podemos entender
cecotrofos como o alimento fermentado por mais tempo e naturalmente no ceco. As fezes (bosta ou coco no
popular) são as partes não digeríveis dos alimentos pelos animais. Os cecotrofos são e podem ser
consumidos diretamente do ânus, sem mastigação pelos coelhos, porque são considerados alimentos
fermentados e enriquecidos pelas bactérias, enquanto as fezes não deveriam ser reingeridas, pois são os
resíduos indigestíveis de tudo o que o animal se alimentou, caracterizadas pelo mau cheiro (quase inodora
nos coelhos), alta carga de micróbios impróprios ao re-consumo e com pouquíssimo valor nutricional.

 

Cecofagia, ceotrofagia ou cecotrofia: É a reingestão do bolo alimentar fermentado por mais tempo no
ceco do coelho que naturalmente ocorreu, melhor dizendo, o ato de ingerir os cecotrofos. Três palavras diferentes, mas com o mesmo significado. Esse processo melhora a absorção de energia e de diversos nutrientes, sendo consumido, preferencialmente, à noite. Em coelhos selvagens inicia-se precocemente, enquanto nos domésticos após o início do consumo de alimentos sólidos, por volta da terceira semana de vida. Interferem no consumo de cecotrofos iluminação, dieta, manejo, densidade, ciclo circadiano e lactação. O correto seria dizer que os coelhos FAZEM cecofagia, ceotrofagia ou cecotrofia e não dizer coelhos TEM cecofagia, ceotrofagia ou cecotrofia.

 

Coprofagia: É o consumo das fezes. Essa palavra pode ser dividida em duas partes, “copro” e “fagia”.
Em latim “copro” significa “fezes” e fagia "ingestão", sendo assim, corpofagia é o ato de ingerir fezes. Muitas pessoas desinformadas dizem que isso ocorre naturalmente em algumas espécies de animais. Em parte isso é verdade, por exemplo, quando se trata de alguns insetos e certos peixes de fundo. Mas se tratando de animais domésticos como gato, cão, galinha, ovelha, cabra, vaca, cavalo e até mesmo o próprio porco, isso é considerado um hábito depravado, ou seja, algo não natural da espécie e com consequências ruins para o próprio animal. Normalmente, animais de produção que fazem coprofagia, ingerem não apenas suas próprias fezes, mas também as fezes de outros animais. Isso tem uma maior frequencia em sistemas intensivos de produção, por desordem psíquica, ou quando o animal está com deficiencia de algum ou alguns nutrientes. Normalmente a deficiencia de nutrientes é a principal causa de coprofagia. Em láparos isso é mais comum, principalmente quando estão saindo do ninho, por volta dos 18, 19, 20 dias, pois colocam na boca quase tudo o que lhes aparece à vista, mas apenas experimentam, logo param. Em coelhos adultos isso é mais comum somente nas fêmeas gestantes e/ou lactantes, quando o apetite aumenta exageradamente, podendo consumir até mesmo um pouco das próprias fezes, principalmente se a ração não for de boa qualidade. Coelhos que consomem muitas fezes por dia são considerados com hábitos depravados também. A melhor maneira de evitá-lo seria fornecendo uma ração balanceada, em quantidade, qualidade e horário correto para cada categoria animal, além de um manejo adequado e preservar os animais dos extresses desnecessários.

 

Cecofágicos ou cecotrófagos: Animais que fazem cecofagia, cetrofagia ou cecotrofia, ou seja, os
animais que ingerem os seus próprios cecotrofos. Neste caso coelhos e lebres, mas, caso existam outros animais que possam realizar a cecofagia, ceotrofagia ou cecotrofia também são considerados cecofágicos ou cecotrófagos.

coelho

Coprofágicos ou coprófagos: Animais que ingerem fezes normalmente na natureza. É muito
importante saber que são considerados coprófagos ou coprofágicos somente os animais que alimentam-se do esterco de outros animais na natureza, de forma natural, independente das condições ambientais, como alguns insetos e peixes de fundo. O besouro coprófago e certos peixes de água salobra são exemplos de coprófagos ou coprofágicos. Para melhor entendimento dessa classificação alimentar dos animais tomemos com exemplo um cão qualquer. Esse cão consegue consumir fezes, porém, somente fará isso caso esteja com fome por vários dias, com alguma deficiência alimentar ou distúrbios mentais. Caso esse cão consuma suas fezes os cães não poderão ser considerados coprofágicos ou coprófagos, pois naturalmente eles não consomem suas fezes e nem a de outros animais. Por natureza o cão é um onívoro. Os coelhos encaixam-se na mesma situação. São comuns coelhos selvagens, principalmente em tempos de seca, consumirem suas fezes ou a de outros coelhos. Entretanto, somente o fazem quando as condições ambientais restringem muito o crescimento dos vegetais consumíveis, obrigando-os a ingerirem fezes. Por isso, os coelhos não podem ser classificados como coprofágicos ou coprófagos. Coelhos são herbívoros cecofágicos/cecotróficos.