Nota técnica: Legislação de coelhos para laboratório

Por: Letícia de Sá Guimarães Cunha e Rosiane de Souza Camargos – Estudantes de Graduação em Zootecnia do IFMG Bambuí

Revisão: Prof. Luiz Carlos Machado – IFMG Bambuí

Para baixar esta nota técnica em formato PDF clique aqui.

 

O coelho é um modelo experimental de extrema importância para o avanço científico da sociedade, prestando excelentes serviços no desenvolvimento de medicamentos, vacinas, cosméticos e produtos relacionados. Contudo, esta atividade deve ser feita de maneira controlada buscando se adequar às atuais normas. De acordo com a resolução normativa N°33, de 18 de novembro de 2016 do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal, os seguintes princípios devem ser considerados.

            Alimento: os coelhos devem receber uma dieta palatável, que atenda às suas exigências nutricionais e em quantidades adequadas. É importante oferecer alimentos com grau de dureza que estimulem e provoquem o desgaste dos dentes, os quais são de crescimento contínuo nessa espécie. Os comedouros devem ser de fácil acesso e adequados ao número de animais por recinto. Outros itens de alimento, além da ração, podem ser oferecidos aos animais, tais como forragens. A ração deve ser armazenada em recintos cobertos, ambientes limpos, secos, arejados, sem odores e protegidos do sol e do calor, de modo a minimizar a deterioração e contaminação. O local destinado para armazenar a ração não deve alojar outros insumos.

            Água: deve ser oferecida de forma potável, fresca, limpa e à vontade e caso não observe esses princípios, a contaminação da água poderá influenciar nos resultados das pesquisas feitas com os animais, além de prejuízos na saúde dos mesmos. A restrição de líquidos pode afetar na menor ingestão de alimento e na desidratação.

            Manejo: é desejável o registro das atividades. Os funcionários devem conhecer o comportamento e a biologia dos animais para minimizar as situações de estresse e promover situações que gerem estímulos prazerosos.

            Identificação: as gaiolas de todos os animais devem possuir registros em forma de etiquetas fixadas e os animais reprodutores devem possuir fichas individuais atualizadas, constando informações como categoria, raças, data de nascimento e outras pertinentes.

            Segurança do operador: os operadores que realizam as múltiplas atividades devem usar Equipamento de Proteção Individual (EPI) adequado ao desempenho da atividade.

            Descarte de materiais: os resíduos são classificados em função de suas características específicas e seu manejo necessita de cuidados e métodos especiais de coleta, transporte e destinação final.

            Procedimentos de coleta de sêmen: os métodos incluem a monta natural e coleta na fêmea, eletroejaculação sob anestesia e coleta após eutanásia.

            Procedimentos de coleta de sangue: devem considerar o fato de que todas as espécies têm a mesma relação entre volume sanguíneo e peso corporal. Devido ao estresse gerado por esse procedimento, podem ocorrer algumas alterações nos processos bioquímicos no sangue dos animais. É importante que o executor do procedimento já tenha habilidade com o processo para evitar um maior estresse. O volume máximo recomendado para coleta de sangue é de 10% do volume de sangue circulante em animais saudáveis e bem nutridos, observando um período mínimo de recuperação de 3-4 semanas. É importante levar em consideração o método, o volume e a frequência da coleta, pois estes estão ligados diretamente ao bem-estar do animal. Sempre quando possível, é recomendada a reposição de fluidos após coletas de sangue. Uma imobilização inadequada prolongará o tempo de retirada de amostras, aumentará os riscos para o animal e reduzirá a qualidade das mesmas. Quando coletas múltiplas são necessárias, deve-se alternar o local da coleta.

            Controle da dor: devem-se aplicar analgésicos, anestésicos e sedativos nos coelhos antes de procedimentos cirúrgicos, pois a dor ocasiona alterações fisiológicas, bioquímicas e comportamentais indesejáveis ao animal, podendo prejudicar os estudos científicos. O alívio da dor traz consigo a homeostasia do organismo do animal após as cirurgias.

São questões essenciais referentes ao bem-estar animal a serem consideradas.

  1. a) buscar-se reduzir a utilização de animais, quando possível;
  2. b) minimizar a dor e a perturbação para o animal.

O monitoramento do estado do animal no transcorrer do estudo deve ser feito de forma responsável e incluir, além do exame clínico diário, a observação constante, assim como análises clínicas feitas por profissionais capacitados, para determinar o ponto final da participação de cada um dos animais na investigação.

Enriquecimento ambiental: Sempre que possível é recomendado o enriquecimento ambiental da gaiola utilizando-se para este fim utensílios diversos. Plataformas ou caixas colocadas entre 20 e 30 cm acima do chão fornecem um bom abrigo escuro. Bolas e dois pesos de polipropileno resistentes a mordidas servem como bons brinquedos, bem como correntes de aço inoxidável suspensas com madeiras penduradas.

Na área de bem-estar são consideradas as necessidades comportamentais específicas da espécie, como por exemplo, a disponibilidade de um espaço que permita livre movimentação e atividades básicas como, sono, privacidade e contato com outros animais. Os animais devem ser acostumados com o contato humano, principalmente dos pesquisadores, com o intuito de evitar maiores problemas e desconfortos para as espécies.

Social: Em seu habitat, os coelhos são animais sociais e, em muitos casos, vivem em tocas de até 100 ou mais animais de várias idades. Alojamento em grupos proporciona aos animais a oportunidade de um comportamento social mais próximo do natural, incluindo uma ampla oportunidade para o exercício adequado, limpeza mútua e melhora no bem-estar geral. Coelhos alojados em grupo realizam uma higiene grupal, que é um comportamento importante e aumenta a coesão do grupo. Os coelhos podem também ser alojados em pares com gaiolas interconectadas. Animais alojados individualmente devem ter contato visual e olfativo com outros coelhos. Enquanto as pesquisas sobre alojamento grupal de fêmeas não forneçam um resultado concreto bem como o problema relacionado à elevada agressividade dos animais seja contornado, o alojamento individual de reprodutoras é indicado.

Estimulação olfatória: O coelho tem uma alta sensibilidade olfativa, o que é de extrema importância no comportamento social e sexual. Portanto, deve-se evitar o uso de substâncias químicas de odor forte. Os coelhos devem ser capazes de manter contato olfativo com outros animais familiares.

Além desses princípios deve-se recordar que todos os experimentos que envolvam a participação de animais devem obedecer ao disposto na lei 11794 de 2008 devendo ser obrigatoriamente aprovado previamente por uma comissão de ética animal (CEUA).