A Cunicultura e o Desenvolvimento Sustentável

 

Por: Luiz Carlos Machado1 e Walter Motta Ferreira2

1Professor do IFMG, campus Bambuí - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

2Professor da EV-UFMG - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

  Atualmente, a questão ambiental vem sendo extensamente debatida, principalmente quando está em pauta o manejo dos recursos naturais. As opiniões convergem no sentido que o cenário futuro é preocupante. A população do planeta no ano de 2050 será de aproximadamente 9 bilhões de habitantes e para alimentar esse contingente haverá grande necessidade de melhoria nos índices produtivos além de maior conservação dos recursos naturais, principalmente os hídricos.

   O Brasil se desponta para ser o celeiro mundial. Projeções apontam que no ano de 2018, de 60 e 90% das carnes bovinas e de aves exportadas no mundo, respectivamente, serão de origem brasileira. Mas como produzir tanto, sem comprometer o meio ambiente?

  O termo desenvolvimento sustentável foi cunhado no século 19 e se refere ao desenvolvimento político e social agregado à conservação ambiental, sem comprometer a capacidade das gerações futuras. O desenvolvimento sustentável deve ser implementado para garantia de uma vida minimamente saudável das gerações vindouras.

   É cada vez mais importante contar com as possibilidades de criação racional de animais que possam alcançar altas taxas de reprodução e de produtividade, mesmo em pequena área útil, expressiva capacidade de reciclagem e baixo desperdício de insumos, reduzido impacto no equilíbrio do ambiente, adubação e fertilização dos solos, produção de peles e adornos, e igualmente proteínas de alto valor nutritivo para a alimentação humana. Nesse contexto, o coelho pode ser considerado como animal estratégico. Destacamos a seguir alguns aspectos importantes dessa atividade produtiva:

Elevada prolificidade e produtividade - Uma coelha poderá produzir cerca de 50 filhotes por ano. Cada coelho em crescimento ganha cerca de 40 g de peso vivo por dia, podendo ser abatido entre 75 e 80 dias de idade, pesando cerca de 2,5 kg, fornecendo 1,3 kg de carcaça. Dessa forma, a partir de uma fêmea, poderão ser obtidos aproximadamente 65 kg de carcaça animal por ano. Soma-se a isto outros produtos comestíveis como o fígado, coração e rins.

Carne de altíssima qualidade nutricional - A carne do coelho apresenta cerca de 21% de proteína, 8% de gorduras e apenas 50 mg/100g de colesterol o que a destaca como excelente alimento, principalmente para idosos e convalescentes.

Baixa necessidade de área útil - O coelho é um animal que exige pouco espaço. Em uma gaiola de 60 x 60 cm é possível alojar um animal em reprodução e quatro animais em crescimento. É possível montar uma cunicultura de 700 fêmeas em apenas 1 há, o que fornecerá cerca de 3500 kg de carne/mês. Áreas ociosas da propriedade poderão ser utilizadas.

Trabalho leve - Sendo o coelho um animal dócil e de fácil manejo, o trabalho da granja pode ser realizado por mulheres, idosos e crianças, se adaptando bem a sistemas de agricultura familiar, onde a família é responsável por toda a mão de obra.

Auto geração de animais para crescimento ou reprodutores - Diferentemente da suinocultura e avicultura, esta atividade não é dependente da compra de animais para crescimento ou reprodução. Todos os animais podem ser produzidos no próprio estabelecimento.

Aproveitamento de alimentos de baixo valor nutricional - Como animais herbívoros, os coelhos têm a capacidade de receber em sua dieta grande quantidade de alimentos fibrosos. Sua fisiologia digestiva particularmente potencializada pela cecotrofia, incrementa o aproveitamento dos nutrientes. Outros subprodutos agroindustriais também podem ser utilizados, podendo muitos deles serem oferecidos diretamente ao animal, tais como restos de hortaliças e outros rejeitos hortifrutigranjeiros.

Geração de esterco de alta qualidade - O esterco produzido na criação de coelhos é de altíssima qualidade para as plantas, apresentando 1,5 a 2,5% de N, 1,4 a 1,8% de P e 0,5 a 0,8% de K. Este esterco é considerado, por horticultores, como um excelente adubo orgânico, não necessitando curtimento, podendo ser utilizado em, além de hortas, no plantio de flores, etc. Em sistemas sustentáveis, o resíduo de um passa a ser insumo de outro sistema produtivo.

Possibilidade do aproveitamento de subprodutos do abate - Da carcaça do coelho, pode-se aproveitar praticamente tudo. O sangue pode ser utilizado para produção de soro com grande aplicação na biotecnologia, do cérebro pode ser obtida a tromboplastina, importante produto para coagulação sanguínea, das patas podem ser obtidos adornos, a pele poderá ser utilizada na indústria de roupas e o couro é muito apreciado para produção de outros apetrechos da vestimenta como sapatos, carteiras e cintos e as vísceras poderão ser utilizadas para fabricação de farinha de carne para alimentação animal.

Baixa necessidade de água - Diferentemente das atividades de suinocultura, avicultura e bovinocultura intensiva, não há grandes consumos de água mesmo para higienização das instalações. A água utilizada é praticamente a de bebida para os animais.

A partir do exposto, observa-se que o coelho se apresenta como um animal de extrema importância para o desenvolvimento sustentável da sociedade. Pode ser incorporado como modelo animal útil em tecnologias sociais que se constituem em soluções importantes e viáveis de produção de proteína animal por excelência com baixo impacto ambiental.

 

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