A importância da escrituração zootécnica: o exemplo da UFLA

Por Wilder Daniel da Silva – Aluno de graduação em Zootecnia da UFLA

e Raquel Moura – Professora do Depto. Zootecnia da UFLA – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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A escrituração zootécnica é uma valiosa ferramenta a ser empregada nas propriedades que trabalham com produção animal, sendo essencial para obtenção de lucros e valorização do produto no mercado. Ela tem como princípio básico a coleta, organização e armazenamento de dados referentes aos animais e manejo empregado. Sua importância é elevada devido ao fato de dar um ''feedback'' ao produtor sobre a eficiência das práticas adotadas no manejo (alimentar, reprodutivo, sanitário), permitindo uma tomada de decisão baseada em resultados positivos ou negativos.

Os dados adquiridos através da escrituração zootécnica nos direciona sobre quais atitudes devemos tomar diante de problemas que possam estar acontecendo e também sobre quais são os melhores animais para permanecer no plantel. Essa prática contribui para uma boa administração, pois o lucro está diretamente ligado a um melhor controle dos custos de produção.

No Setor de Cunicultura do Departamento de Zootecnia da UFLA é utilizado um quadro branco para anotar a quantidade diária de alimentos fornecidos (figura 1), além de fichas e planilhas para controle da produção e reprodução dos animais, modelos semelhantes aos disponíveis no site da ACBC (www.acbc.org.br).

 

 

Figura 1. Quadro branco usado para anotação dos dados da alimentação (quantidade de ração peletizada, forragem e tipo de forragem) e manejo relacionado com reprodução (data cobertura, data diagnóstico gestação, data colocação ninho, data previsto de parto, início de manejo pré-desmame e desmame dos láparos)

 

A identificação dos animais é feita com caneta permanente na orelha (alternativa para quem não tem tatuador e trabalha com plantéis pequenos), variando a posição da marcação de acordo com a categoria: orelha direita (reprodutores/ reposição) e esquerda (recria/engorda).  Foram criados códigos de acordo com cada finalidade produtiva (”C” - carne; “P” - estimação “pet”; “L” - pele) e categoria: “R” - macho reprodutor/reposição (idade acima 75-90 dias); “Z” - matriz/fêmea reposição (idade acima 75-90 dias); “F” - fêmea em recria/engorda (idade entre 30-90 dias); “M” - macho em recria/engorda (idade entre 30-90 dias). Por exemplo, o animal ”RC1” corresponde a um macho reprodutor de carne número 1. Como esse tipo de marcação não é permanente como seria uma tatuagem, a identificação nas orelhas precisa ser reforçada semanalmente, o que é feito simultaneamente à pesagem dos animais (descrição detalhada a seguir). Todas as gaiolas também são numeradas sendo esta uma outra forma de identificação do plantel, o que facilita o manejo por agilizar a localização do animal.

Uma das fichas que se utiliza é para controle do desempenho reprodutivo dos machos (figura 2), onde são anotadas as seguintes informações: data da cobrição, animais envolvidos, data prevista para o parto, diagnóstico de gestação, data para colocação do ninho, data do parto, número de filhotes (vivos e mortos), média de peso da ninhada, data do desmame e número de láparos vivos desmamados. As matrizes também têm fichas individuais e isso ajuda na decisão sobre possível descarte daqueles animais menos produtivos, além de evitar cruzamentos consanguíneos (de animais parentes). Essas informações são usadas para analisar como está o desempenho reprodutivo das matrizes e reprodutores e selecionar os melhores indivíduos para reposição e melhoramento dos índices produtivos.

 

 

Figura 2. Modelo de ficha utilizada para controle individual dos reprodutores

 

Desde o nascimento dos coelhos, e em intervalos semanais, é feito um controle de peso, todas as sextas-feiras,  sendo os valores  anotados para controle do peso vivo, visando a diminuição dos custos de alimentação. Cada filhote desmamado aos 30 dias de idade recebe o código de identificação, facilitando assim a verificação de quais dos indivíduos são mais produtivos, considerando-se o parâmetro de ganho de peso. Essa pesagem inclui também os adultos (reprodutores e matrizes), para verificar se os mesmos estão mantendo seu peso.

A aferição do ganho de peso dos filhotes é muito importante, pois é através dele que podemos buscar melhorias, ou alterar o manejo, visando atingir o peso de abate (mínimo de 1,8 Kg) no menor prazo possível.

A coleta de dados é então interessante para que se possa estudar o desempenho dos animais, que é influenciado pela alimentação empregada, ambiência do local e época do ano, dentre outros fatores. Na figura 3 está ilustrada a evolução do peso médio de uma ninhada de coelhos Nova Zelândia Branca x Botucatu, que atingiram 2,5 kg aos 103 dias de idade. O gráfico foi feito com o eixo “x” sobre a idade em dias dos animais e o eixo “y” sobre peso vivo dos animais em gramas. Foi marcado dois pontos no gráfico, aos 30 dias, representando a idade de desmame, e aos 75 dias, idade considerada ideal pelo fato dos coelhos de porte médio já apresentarem peso acima de 1,8 kg.

 

  

 

Figura 3. Evolução do peso médio de uma ninhada de coelhos Nova Zelândia x Genética Botucatu

Esperava-se abater os animais quando estivessem com 2,5 kg, pois se acreditava que compensaria mais se comparado a coelhos de 1,8 kg. Com base na análise de dados obtidos através da escrituração zootécnica, chegamos a conclusão que era antieconômico esperar que os coelhos atingissem peso de 2,5 Kg para serem enviados ao abate, haja vistas que a idade seria muito elevada. Além disso, uma carcaça de 1,0 kg, exigida pelos frigoríficos como valor mínimo, já é atingida com 1,8 kg.

O período de engorda ideal, preconizado atualmente no Brasil, é de 60 a 70 dias, porém os animais mantidos  no setor da UFLA gastaram mais tempo para atingir peso de abate. Deve-se enfatizar também que após 75 dias de idade os animais ganharam apenas 750 gramas em 28 dias, sendo o consumo adicional de ração nesse período muito elevado (150g/animal/dia) não compensando economicamente. Dessa maneira o controle de peso dos animais foi importante para estabelecer o peso de abate entre 1,8 a 2,0kg, , evitando gastos desnecessários com ração.